Professor: elo importante para a qualidade de cursos a distância

Por Rosangela Maria Cunha em 19 de janeiro de 2009
No momento em que o Brasil vivencia um avanço no oferecimento de Educação a Distância, cabe uma reflexão sobre a adaptação e acomodação de um modelo que tenha na figura do professor um elo importante para a qualidade de cursos nessa modalidade.

Por acompanharmos o processo de implantação do ensino a distância e as mudanças ocorridas desde 2005, como a implementação em larga escala de ferramentas online de informática no ensino, interessou-nos conhecer a concepção dessa modalidade para os professores de cursos de graduação a distância da Universidade de Santo Amaro.



Introdução

Para isso, realizamos um estudo com os seguintes objetivos: conhecer a estrutura acadêmico-pedagógica-administrativa do setor responsável pelo ensino a distância dessa Universidade, bem como refletir sobre a implantação de uma modalidade nova como o ensino via web e satélite; conhecer a concepção dos professores de graduação a respeito da EAD e propor ações de aperfeiçoamento desse processo.


Momento de transição

As metas propostas pela Instituição em questão para a modalidade de ensino a distância eram de possibilitar ao egresso opções de conhecimento, aquisição de habilidades e competências para o desempenho profissional, garantindo ao acadêmico um ensino contextualizado para o exercício da sua profissão, promovendo uma constante relação entre ensino, pesquisa, extensão e pós-graduação.

Estamos vivendo uma era digital em que a “parcialização, a especialização e o condicionamento são noções que vão ceder lugar às de integralidade, de diversidade e, sobretudo, vão abrir caminho para um engajamento real de toda a pessoa” (GADOTTI, 1999, p.67). Tal afirmação reafirma a necessária importância do professor como o grande elo entre o ensino a distância e a qualidade oferecida, pois o “engajamento real de toda a pessoa” implica na integração do aprendiz com o aprendizado e o professor-facilitador, mediador.

Assim, dentre as atribuições do professor Autor-Tutor podemos mencionar: a elaboração dos conteúdos da disciplina, apostila, plano de ensino, aulas web e aulas satélite; ministrar aulas e orientações aos professores auxiliares pela web e pelo satélite; elaborar atividades presenciais e web; elaborar provas presenciais; fazer tutoria pela web por meio de Fóruns de Discussão e corrigir as atividades propostas.

Para tanto, necessita-se estimular o professor, antes de tudo, com uma capacitação específica que o desperte para o uso consciente de uma ferramenta poderosa, no gerenciamento das atividades de ensino, um recurso para a organização de seu trabalho pedagógico para controle e avaliações contínuas. (CUNHA, 2002, p.14)

Professores que atuam na modalidade presencial sentem certa dificuldade na primeira experiência com EAD pelo fato de ministrarem a aula para uma câmera e não para uma classe com alunos, ou seja, por divulgarem e disponibilizarem o saber a partir de outros meios. Assim, também, a mudança na dinâmica entre professores e alunos é igualmente sentida por estes últimos, de maneira que o ineditismo desta interação (entre alunos e professores) aponta a necessidade de uma ferramenta que possibilite indicar o grau de atenção e aprendizado no momento da aula como, por exemplo, o uso de câmera digital web que traga imagens ao vivo dos alunos e vice-versa.

Outra dificuldade encontrada diz respeito ao pólo de ensino – “unidade operacional para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas relativas aos cursos e programas ofertados a distância” (BRASIL, 2007) –, na medida em que algumas localidades têm dificuldade de acesso ao ambiente web e chegam a ficar sem Internet por vários dias, o que pode prejudicar tanto o acesso do aluno às atividades que devem ser respondidas e postadas para posterior correção pelo Tutor, quanto a sua interação com o professor quando há alguma dúvida ou questionamento.

Notamos, também, que os professores dividem-se em relação à concepção da modalidade a distância comparada à modalidade presencial. Dos professores entrevistados, 56,25% responderam que há muita diferença entre ensino presencial e ensino a distância; 37,5% responderam que há uma diferença razoável e 6,25% disseram haver pouca diferença.

Constatamos que dos professores entrevistados, 85,2% iniciaram suas atividades no ensino presencial e hoje atuam no ensino a distância também. Desses, 20% gostariam de continuar trabalhando apenas com ensino a distância. Tais dados revelam que ainda há insegurança por parte dos professores tanto no que tange o oferecimento de vagas nesses cursos em nova modalidade, quanto em relação à estabilidade profissional em instituições que oferecem os mesmos.

Apesar das diferenças nas experiências das modalidades presencial e a distância, pretende-se aqui ressaltar o necessário senso crítico acerca da primeira modalidade e os efeitos sentidos na segunda modalidade, frente as novas demandas e possibilidades de aperfeiçoamento do processo educativo.

Desta maneira, a desestabilização do papel tradicional do professor encontra ecos também no novo posicionamento do aprendiz: A EAD nos mostra a importância do auto-estudo, da aprendizagem dirigida. O professor não precisa concentrar toda a sua energia em transmitir a informação. Pode disponibilizar materiais para leitura individual e realização de atividades programadas, pesquisas, projetos, combinando o seu papel de informador com o de mediador e o de contextualizador. (MORAN, 2008, p.8) Nas visitas realizadas aos pólos, os encontros com os alunos mostram a necessidade de maior interação entre professor/aluno. Os alunos esperam maior contato com uma realidade de aula que se aproxime da presencial e que, portanto, se distancie de qualquer padronização de ensino. Eles esperam uma interação personalizada. Por isso, novamente, reiteramos a fundamental reflexão sobre o papel do professor no ensino a distância.


Momento de aceleração

Não basta ao professor moldar-se a projetos implantados em instituições de ensino e acompanhar as mudanças sentidas no mercado de oferecimento de cursos a distância. Faz-se necessário repensar o papel do educador em uma era de tecnologia que pretende fazer parte da vida de cada vez mais pessoas. Favorecer o desenvolvimento de percepção crítica dos alunos é primordial para o estabelecimento de uma interação professor/aluno satisfatória. O professor deixa de ser o centro do processo e passa a ser o acompanhante/tutor da apropriação do conteúdo pelo aluno. É nessa interação que se encontra o ponto de contacto entre realidades (a do aluno, a do professor, a do contexto de produção do material e veiculação do mesmo), um conjunto de intersecções mediado pelo professor, o guia que, ao mediar todo o processo do encontro do conhecimento ao aprendiz, torna-o ainda mais pertinente, possibilitando assim a qualidade do ensino.

Por fim, vale dizer que para podermos vislumbrar o futuro ascendente do ensino a distância e criarmos expectativas positivas quanto ao estabelecimento de políticas de controle de qualidade que promovam o oferecimento de cursos a distância focados em crescimento educacional e não simplesmente econômico, precisamos estabelecer quais sejam os fundamentos da educação a distância. No caso aqui apontado, um dos fundamentos é a relação do professor com todo o processo de ensino a distância, principalmente, na sua relação com o aluno enquanto uma dinâmica básica na busca e na construção da qualidade e da eficiência na modalidade mais recente e inovadora da educação: o ensino a distância intermediado pelas novas tecnologias.


Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Normativa n. 2, 7 de janeiro de 2007. Dispõe sobre os procedimentos de regulação e avaliação da educação superior na modalidade a distância. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 jan. 2007. Seção I, p. 8.

CUNHA, R. M. Tecnologias multimídia-telemática na prática de ensino do meio ambiente: uma abordagem interdisciplinar. Tese (Doutorado em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

GADOTTI, M. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1999.

MORAN, J. M. Avaliação do ensino superior a distância no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 26 abr. 2008.



Autores:
CUNHA, R. M.; OLIVEIRA, V. de

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